É engraçado pensar, que por mais que você tente de tudo, muitas coisas não estão destinadas para vc, e uma hora vc tem que parar de lutar contra a maré. Parar, pq as energias acabam, a medicação tá certa, mas como diz Tim Maia “tem gente que não nasce para ser feliz”, e é muito cansativo lutar contra isso. Consegui por quase um ano e meio. Mas as forças acabaram. Daqui em diante, eu não sei o que será, minha família esta com problemas tão complicados, que eu não posso ser mais um, então eu tento transparecer que esta tudo bem, pq o meu, é bem difícil de resolver, e requer bastante disponibilidade de quem se disponha a ajudar, mas hj, na minha vida, quem eu conheço, tem sua vida e não sou prioridade de ninguém. Só eu seria minha prioridade, e por hora, tô sem energia e vontade pra isso. A sensação é volta à estaca zero, lá em 2020, antes da pandemia, mas com mais problemas piores. Eu vou precisar avisar alguém que tudo piorou, um dos pedidos do meu médico, é deixar alguém atento a essa mudança, a essa piora, a essa regressão, mas nesse momento, das pessoas que me conhecem, por mais que gostem de mim, e querem me ver bem, ninguém tem espaço ou disponibilidade de tempo na vida para isso. É isso, nesse momento, não tem um horizonte bonito e nem que tudo vai melhorar.

A barreira

A primeira coisa que eu ouvi assim que eu voltei foi: “Percebeu que não adianta ficar tentando? Você não vai tão fácil.”

Eu queria dizer que nunca foi fácil, mas dessa vez foi diferente. Fui até um ponto que não tem mais como voltar. Pensando bem, eu já não tenho mais razão para ficar.

Ficarão os livros ainda lacrados… tintas que poderiam ter virado pinturas, mas vão perder a textura dentro da embalagem… filmes não revelados. Em alguns cantos, serão encontradas anotações…. aquela receita que não foi para o forno… uma lista de lugares que nunca serão visitados. Tem aquela playlist que fiz e guardei. Você vai saber qual é pelo nome que eu dei.

E aquela garrafa, ah… aquela garrafa, permanecerá fechada à espera da ocasião especial que nunca aconteceu… as velas que não foram acesas e não tiveram a oportunidade de iluminar uma boa conversa… tem fotos que foram impressas e estão guardadas em caixas junto com os sonhos esfarelados… sonhos que foram pisados… até virarem poeira.

Aquele tipo de poeira que não paira no ar, mas que simplesmente assenta no chão, e nada mais será.

Ser copo descartável

O nome já diz, ele não fará parte da história, será apenas um objeto que servirá enquanto dura o evento. O destino é sempre o lixo, chega a ser um objeto efêmero, sem valor.

Ser copo descartável, é ver a vida passando e você ficando, no seu estado descartável, de não ter valor, de seu único destino ser lixo na vida dos outros…. apenas usado é descartado.

Sim, existem os copos de vidro…. esses tomasse cuidado, esses podem durar a vida inteira, esses são destinados aos momentos especiais.

Uma visita ao jardim

Minha válvula de escape aqui sempre foi o jardim, praticamente de hora em hora eu desço.

Aprecio ficar sozinha, mas aprecio também quando alguém desce pelo mesmo motivo e resolve compartilhar sua história comigo.

Ali sem meias palavras: dores de amor, problemas com o peso, com o sono, o trabalho… vidas tão plurais e fatores em comum.

Paz estranha

Faz tempo que eu não sorria à toa. Na verdade nem sei bem porque eu estou sorrindo, minha vida nunca esteve tão bagunçada… fisicamente, emocionalmente, profissionalmente e todos esses “mentes” que a vida adulta traz. (E olha que de bagunça eu entendo, os Virginianos que me perdoem)

Essa semana revi muita gente importante na minha vida, e mais uma vez senti saudade daquela moça que todo mundo sente também.

Por algum momento senti que estava voltando… e dei de cara com uma vida que não planejei e muito menos sonhei.

Respirei fundo, muitas e muitas vezes. Ainda não quis olhar no espelho… mas como uma lembrança quase biológica recordei que tudo o que eu tenho é o que estou vivendo hoje.

Sobre o passado?

As coisas boas… não tenho como reviver, só lembrar.

As ruins? Não adiantam ser remoídas, não tem como mudar o que já aconteceu; nem é solução tentar esquecer… e o que fazer com elas? Aprender. O aprendizado é tudo o que devo levar das coisas ruins, o sofrimento não precisa mais ser bagagem.

Sobre o futuro?

Preciso estar alerta e aberta para os “bons ventos” que aqui em mim farão sua curva.

Sobre hoje?

É cada vez que você inspira e expira.

Breath.

Malandragem

Eu ouvia essa música em frente à escola enquanto esperava o ônibus para ir para casa. Eu tinha 15 anos, minha melhor amiga tinha mudado de país, namorava um cara quase 10 anos mais velho (mas eu queria mesmo era namorar um cara da escola), e não me encaixava em nenhum padrâo (beleza, gosto musical, o que ser quando “crescer”, etc…).

Lembro de ficar com essa música no repeat (essa é realmente uma mania antiga) até chegar em casa. Eu tinha todas as dúvidas do mundo, nenhuma certeza e tinha medo de sonhar.

Hoje, deixando minhas músicas favoritas no aleatório, surgiu Malandragem de novo, e me transportei imediatamente para aquele ponto de ônibus e percebi que passado todos esses anos, ainda sou aquela garota… que não se encaixa, que está sem rumo e que não se permite sonhar com medo do que a realidade pode revelar.

Malandragem – Cássia Eller

Cadê tu paz?

Imagine um monte de pensamentos aleatórios que tiram sua paz. É a conversa que você não consegue ter, é a situação que não depende de você, é pensar nas contas babacas que você fez para tentar se sentir melhor por um segundo, é o desespero de sentir cada minuto do dia passando, é não conseguir pensar em coisas boas. Você já sentiu isso?

Agora pense em todos passando pela sua cabeça ao mesmo tempo. De enlouquecer né? Será que vc consegue fazer alguma coisa? Incapacitante certo?

Você não consegue ter foco, nenhum livro te prende, você tem vontade de gritar (mas ninguém vai ouvir seu pedido de ajuda), e por aí vai.

Alguém diz “controle” seus pensamentos que vai ficar tudo bem…

Eu sei que se eu conseguisse controlá-los ia ficar tudo bem… mas me conta… como eu faço isso?

Meditar? Atualmente nem com as meditações guiadas eu consigo, mas insisto. Remédios para ansiedade não fazem milagres. Eu me sinto insuportável, imagina se alguém chega perto. Eu preciso que alguém me abrace muito forte.

É a ansiedade chegando e dominando tudo. E quem consegue dominá-la?

Um recomeço, um reencontro

Acho que uma das coisas mais difíceis de lidar é quando nos perdemos de nós mesmos. No meu caso me perdi por causa de uma doença que eu já havia tido antes, mas que durou apenas alguns meses. Dessa vez, não chegou da mesma forma, e nem com a mesma intensidade.

Há pouco mais de quatro anos eu a vi entrando na minha vida novamente, mas com uma força que eu nunca havia sentido, e com sintomas que iam além daquela tristeza constante. Eu me sentia possuída por uma força que eu não tinha controle.

Era uma irritação fora do normal. Eu maltratava quem eu mais amava, e falava e fazia coisas que não faziam parte de mim. E nesses momentos eu me sentia uma mera espectadora daquela força que me dominava e ia destruindo minha vida, e eu simplesmente não conseguia controlar, é como se realmente eu tivesse alguém dentro de mim, eu olhava no espelho e não me reconhecia.

Eu pedi socorro para me livrar daquela coisa, mas ninguém entendia o que estava acontecendo, e pior eu não conseguia descrever. Até pedi para terapeutas explicarem o que acontecia com essa falta de controle sobre o que eu fazia, mas mesmo assim quem eu mais precisava, não acreditou no descontrole que eu tinha das atitudes, e que eu precisava do único remédio que realmente cura, mas me foi negado, e no seu lugar ficou o veneno da rejeição, do abandono e da solidão. Mas só compreende isso, quem passa por isso, quem nunca passou, não tem culpa por não conseguir entender.

Com o passar do tempo eu me sentia cada vez mais longe de mim, e cada vez mais sozinha nessa batalha. Eu não tinha mais a mim, ali eu havia me perdido e em questão de poucos meses eu já havia perdido meu lugar seguro no mundo.

Cada vez mais sozinha, pedindo ajuda. Mas parece que quanto mais eu pedia, menos as pessoas que me cercavam entendiam. É a sensação de estar dentro do próprio corpo, mas outra pessoa comanda-lo.

“Ela” tirou de mim minha fome de viver, minha alegria, meu porto seguro, perdi o amor. E me vi sozinha dentro do que era um sonho compartilhado de quatro paredes. Vi as paredes coloridas virarem cinza. Não conseguia mais entrar naquele quarto. Foi quase um ano dormindo no sofá. Até que depois de passar por vários terapeutas (de todas as vertentes possíveis), um me convenceu a voltar a dormir no quarto.

Naquela noite, mesmo com remédios para dormir, não preguei os olhos, passei mal a madrugada inteira, e pela manhã pedi ajuda. O físico já estava deteriorado, mas eu senti que quem me socorreu achou que era mentira, um jeito de chamar atenção. Não era.

Depois de um tempo já perdida de mim, um sonho que virou pesadelo, foi a vez “dela” destruir minha carreira.

Eu já não conseguia comer, os remédios pareciam não fazer mais efeito, e naquele momento eu não conseguia nem sair de casa. Eu já não sabia mais sorrir.

A Ju que conheciam, já não existia mais. No meu corpo já não havia mais vida, virou apenas uma máquina orgânica funcionando de forma inata.

E eu continuava sendo apenas uma espectadora, dentro de um corpo que não me pertencia mais, era só “dela”.

Anos se passaram, e foi só escuridão e dor. Realmente não tinha mais sentido continuar desse jeito. Mas pensando assim, mais distante eu ficava de voltar.

Com uma força que eu não tinha, fui tentar fazer coisas que eu gostava… mas nada tirava o domínio “dela” sobre mim.

Percebi que estava disfuncional em todos os sentidos, a ponto de não conseguir tratar de nenhum assunto. É como se eu tivesse perdido a capacidade de raciocínio. E num sábado à tarde, simplesmente acabei com a última coisa que ainda tinha da minha vida anterior. Meu carro deu de frente com uma árvore, e ali ele ficou, para não mais voltar.

E a verdade é que a vida seguiu para todo mundo, menos para mim.

Há pouco mais de dez dias atrás, eu ingressava num retiro, sem saber realmente o que me aguardava.

Na segunda roda de cura, eu fui ao chão literalmente, é como se a energia vital tivesse sido arrancada do meu corpo. Eu não tinha forças para me mexer, e a respiração foi ficando fraca… até que ele chegou, cuidou de mim, me abraçou e ficou ali, ao meu lado até que eu voltasse, não sei quanto tempo se passou.

Ele me olhou nos olhos e falou algumas palavras que viraram o meu mantra. Mas eu não conseguia nem responder, nem dizer o meu nome, simplesmente meu esforço todo estava em voltar a respirar.

Quando as forças voltaram ele estava ali, abraçado comigo, e naquele momento, nos braços dele eu chorei sem limites: alto, escorriam todas as lágrimas contidas desses anos de cárcere interno.

Ficamos abraçados até eu conseguir parar de soluçar, então ele me olhou nos olhos, e consegui ver que ele me compreendia, ele já havia passado por tudo aquilo também. E naquele instante eu senti que todos que estavam ao redor sentiam a mesma coisa, não havia julgamento, nem rejeição… só havia amor.

Era só o que eu precisava durante esse tempo todo, o melhor remédio… o amor.

Saí daquele lugar mágico, para continuar retomando o que eu mais queria: a Juju.

Durante quatro dias vaguei sozinha por uma cidade que eu não conhecia. Caminhei para me encontrar. Dancei à noite no Pelourinho, e não parei nem quando começou a chover, eu estava lavando minha alma.

E dali meu rumo foi partir para minha jornada de superar medos e crenças que não serviam mais.

Eu tinha medo de trilha, o que atrapalhou muito a minha vida, perdi oportunidades, fui mal compreendida por não falar tão abertamente sobre isso.

Mas quando eu cheguei, há seis dias atrás, eu estava determinada a mudar essa história. Era por mim.

Nesses últimos cinco dias (usei o primeiro só para descansar e andar sem rumo conhecendo outra cidade), foram mais de 50 km de trilhas, contemplando a paisagem, tomando banhos de cachoeira, nadar nos rios e lagoas, e não “panicar” com sapos, cobras e vários insetos (entre eles escaravelhos enormes, e ali lembrei que em algumas culturas ele representa renascimento).

Então percebi que minhas trilhas não foram apenas para superar meus medos, mas para parar e ver os sinais da natureza, ela dá respostas, te equilibra.

As próximas “trilhas” serão dentro de mim, e é aqui que essa Ju se encontra com a Juju (Jujuca, Jubis, Julihelena, Juliete, “pequena”, ou só Ju), que estava tão escondida.